terça-feira, 17 de janeiro de 2017
Jogo de sombras
Tudo começa com um vulto de mão na parede.
A tua mão na parede do meu chuveiro.
A parede que não é mais que vidro fosco.
O vidro que não deixa ver o vizinho do lado, a não ser que te encostes a ele.
E tu encostaste a mão.
Ponho a minha sobre a tua.
Será que viste?
Imagino a água a correr-te pelo corpo.
Vês a minha mão?
Imaginas o que estou a fazer com a outra?
Eu imagino o que estás a fazer com a tua.
Aproximo-me do vidro.
Será que tenho coragem?
Será que vais ver? Será que queres ver?
Eu quero que vejas.
Quero que vejas e invejes a água que me corre pelas costas enquanto pressiono a minha frente contra o vidro.
Será que viste?
Mudas a mão de posição, como se quisesses tocar o que o vidro te impede.
O vidro é frio, mas a minha mão que vai descendo é quente, e mais quente vai ficar.
Viro-me de costas para o vidro, encosto-me e dobro-me pela cintura.
É o jogo de sombras, queres jogar?
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